Nerds
Foto por Julia Chequer/R7
Mães que não confiam na babá. Pais que não conseguem ficar sem dar uma espiadinha nos filhos. Filhos que desconfiam do enfermeiro que cuida do pai idoso. Donos de casa que querem evitar um assalto mesmo de longe. Gente que adora um reality show, ainda mais quando os participantes são sua própria família e o prêmio, a segurança de todos.
Nos últimos anos, ficou cada vez mais fácil e barato monitorar o que acontece longe da gente com as chamadas câmeras IP (protocolo da internet em inglês), que usam a rede para enviar imagens com áudio direto para o computador ou até para um smartphone para qualquer parte do mundo. Alguns modelos enviam e-mails quando detectam algum movimento fora do padrão.
Essas câmeras já ajudam academias de ginástica a controlar a frequência dos alunos em cada aula. Em redes de café, a monitorar lugares estratégicos. Em restaurantes, a conferir se os garçons estão atendendo bem os clientes. E na Praia Grande, no litoral paulista, uma das mais "vigiadas" do país, a monitorar suas 1.530 câmeras pela rede.
Mas esses "olhos digitais" não são úteis apenas para empresas que precisam de segurança. Com o barateamento do preço do equipamento e com a popularização da banda larga essa tecnologia ficou acessível e vem fisgando, literalmente, o coração de quem passa o dia fora de casa.
Edson Pacheco, diretor executivo da Imagica, uma empresa que oferece soluções de monitoramento remoto para pequenas empresas e clientes domésticos, exemplifica com o caso de "gente que quer ver se o cachorro está sendo bem tratado; se a casa da praia está sendo limpa todos os dias, não só quando os donos vão passar o fim de semana".
No caso dos usuários finais, Pacheco diz que os usos variam com a necessidade de cada um.
- Num edifício em que morei o síndico instalou uma para ver quem jogava lixo pela janela no térreo. As pessoas usam a câmera IP para resolver problemas que estejam longe do alcance delas. Apesar dessas câmeras terem áudio nos dois sentidos, elas não querem necessariamente interagir: querem ver de forma resguardada.
Foi o caso da nutricionista Carla Duarte Mamprim, diretora de operações de uma empresa de alimentação, mãe das gêmeas Júlia e Bárbara, de quatro anos, e de Larissa, de dois anos.
Em 2006, quando as gêmeas completaram um ano Carla sentiu necessidade de acompanhar o dia a dia das meninas. Não que desconfiasse da babá: o que a diretora queria mesmo era matar as saudades. O marido, que adora tecnologia, foi quem instalou o sistema. Há três anos, Carla acompanha tudo o que acontece no quarto das meninas, na sala e na cozinha pelo computador do escritório ou pelo celular.
- Parece que estou em casa o tempo inteiro. Foi a melhor coisa que já fiz. Como viajo duas vezes por semana, acesso a qualquer hora. No escritório, deixo o programa minimizado no computador. Quando viajo, vejo no celular. Gosto de ver como eles estão. Salvo algumas imagens para matar as saudades.
Para acompanhar o dia das filhas em casa, Carla pagou por cada câmera Axis 270 - marca que inventou ese tipo de câmera e é uma das mais fortes do mercado - mais ou menos R$ 1.000 [existem modelos mais baratos] e desembolsa mensalmente entre R$ 70 e R$ 100 pelo serviço de gravação virtual. Gostou tanto das câmeras IP que recomendou para as amigas. Várias aderiram. Uma delas, inclusive, está desconfiada de que a babá bate na filha e pretende usar o serviço.
Escola vigiada
Outra mãe que descobriu sem querer o uso tranquilizador das câmeras IP foi a consultora de RH Klyvian Camargo Leal. Quando resolveu colocar o filho, Gustavo, de cinco meses numa escola, Klyvian foi recomendada por uma amiga. Mal saída da licença-maternidade, Klyvian ficou meio deprimida por ter de se separar do filho por várias horas ao dia. Ela já tinha gostado da escola infantil Ticos, mas quando conheceu o serviço de câmera IP da escola nem procurou outra, conta.
- Foi decisivo. Não queria entregar o Gustavo para qualquer pessoa cuidar. Queria ter controle das atividades.
Gustavo foi acompanhado pelos olhos da mãe até os dois anos, quando mudou para uma unidade sem o serviço. Mas Klyvian não se preocupa mais em seguir os passos do filho pelo serviço: ela diz que já confia na escola.
O mercado de câmeras IP no Brasil vem crescendo a passos largos nos últimos quatro anos. O setor estima que o aumento na venda de câmeras IP vêm sendo entre 15% a 20% em todo mundo e no Brasil, entre 5% a 10%.
Hoje, além de vender a câmera propriamente dita, algumas empresas oferecem várias opções para o usuário: eles podem assistir ao vivo a gravações locais ou na nuvem (sistema em que os dados são armazenados em servidores na internet, em vez de serem gravados no computador do usuário) em vários pacotes de sete, 15, 30 e 60 dias. Instalar uma câmera IP não é nenhum bicho de sete cabeças, conta Pacheco.
- Quem conseguiu instalar um sistema de internet sem fio em casa, mesmo não sendo técnico consegue. Basta ler o manual. Mas como a maioria dos nossos clientes não quer perder tempo com configuração a gente cuida disso.
Nos próximos três anos, os preços devem continuar caindo, o que deverá fazer com o que mercado de câmeras IP exploda. Isso só acontecerá quando elas passarem a ser vendidas em lojas populares como as Casas Bahia ou a Fnac. Só que como a maioria das pessoas prefere gravar seu reality show, o futuro das câmeras IP vai depender tanto das câmeras quanto dos serviços que as empresas vão oferecer pela segurança de seus clientes virtuais
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Nerds
Câmeras IP transformam 'reality show' doméstico em segurança
Tecnologia ajuda a ficar de olho no cachorro, nos filhos pequenos e em moradores que jogam lixo pela janela
Luiz Augusto Siqueira, Do R7
Foto por Julia Chequer/R7Carla acompanha o dia a dia das filhas no quarto, na cozinha e na sala pelo iPhone quando viaja
Nos últimos anos, ficou cada vez mais fácil e barato monitorar o que acontece longe da gente com as chamadas câmeras IP (protocolo da internet em inglês), que usam a rede para enviar imagens com áudio direto para o computador ou até para um smartphone para qualquer parte do mundo. Alguns modelos enviam e-mails quando detectam algum movimento fora do padrão.
Essas câmeras já ajudam academias de ginástica a controlar a frequência dos alunos em cada aula. Em redes de café, a monitorar lugares estratégicos. Em restaurantes, a conferir se os garçons estão atendendo bem os clientes. E na Praia Grande, no litoral paulista, uma das mais "vigiadas" do país, a monitorar suas 1.530 câmeras pela rede.
Mas esses "olhos digitais" não são úteis apenas para empresas que precisam de segurança. Com o barateamento do preço do equipamento e com a popularização da banda larga essa tecnologia ficou acessível e vem fisgando, literalmente, o coração de quem passa o dia fora de casa.
Edson Pacheco, diretor executivo da Imagica, uma empresa que oferece soluções de monitoramento remoto para pequenas empresas e clientes domésticos, exemplifica com o caso de "gente que quer ver se o cachorro está sendo bem tratado; se a casa da praia está sendo limpa todos os dias, não só quando os donos vão passar o fim de semana".
No caso dos usuários finais, Pacheco diz que os usos variam com a necessidade de cada um.
- Num edifício em que morei o síndico instalou uma para ver quem jogava lixo pela janela no térreo. As pessoas usam a câmera IP para resolver problemas que estejam longe do alcance delas. Apesar dessas câmeras terem áudio nos dois sentidos, elas não querem necessariamente interagir: querem ver de forma resguardada.
Foi o caso da nutricionista Carla Duarte Mamprim, diretora de operações de uma empresa de alimentação, mãe das gêmeas Júlia e Bárbara, de quatro anos, e de Larissa, de dois anos.
Em 2006, quando as gêmeas completaram um ano Carla sentiu necessidade de acompanhar o dia a dia das meninas. Não que desconfiasse da babá: o que a diretora queria mesmo era matar as saudades. O marido, que adora tecnologia, foi quem instalou o sistema. Há três anos, Carla acompanha tudo o que acontece no quarto das meninas, na sala e na cozinha pelo computador do escritório ou pelo celular.
- Parece que estou em casa o tempo inteiro. Foi a melhor coisa que já fiz. Como viajo duas vezes por semana, acesso a qualquer hora. No escritório, deixo o programa minimizado no computador. Quando viajo, vejo no celular. Gosto de ver como eles estão. Salvo algumas imagens para matar as saudades.
Para acompanhar o dia das filhas em casa, Carla pagou por cada câmera Axis 270 - marca que inventou ese tipo de câmera e é uma das mais fortes do mercado - mais ou menos R$ 1.000 [existem modelos mais baratos] e desembolsa mensalmente entre R$ 70 e R$ 100 pelo serviço de gravação virtual. Gostou tanto das câmeras IP que recomendou para as amigas. Várias aderiram. Uma delas, inclusive, está desconfiada de que a babá bate na filha e pretende usar o serviço.
Escola vigiada
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